Teddy – o homem que nos ajudou a plantar mais de 11 milhões de sementes no Quénia

07/01/2023

Teddy Seedbolts

Em abril, anunciámos que iríamos plantar 11 milhões de árvores nas áreas desflorestadas do Quénia, em conjunto com a Seedballs Kenya. Conseguimos acrescentar mais alguns milhões graças ao contributo dos nossos utilizadores, que pediram viagens de Bolt no fim de semana do Dia da Terra para ajudar a esta causa.

Agora, nove meses, três balões de ar quente e milhares de mãos sujas depois, foram plantadas mais de 11 milhões de Seedbolts*.

Para saber os pontos altos dos últimos meses e descobrir como surgiu a ideia das seedballs, falámos com um homem que dedicou a vida inteira à reflorestação do país e a transmitir aos mais novos a importância das árvores – Teddy Kinyanjui, o cofundador da Seeballs Kenya.

*Enquanto uma seedball é uma semente revestida de carvão reciclado, uma Seedbolt é uma seedball que foi plantada para neutralizar as emissões de todas as viagens e entregas da Bolt em 2022.

Olá, Teddy! É tão bom voltar a ver o teu sorriso! Comecemos pelo início: as seedballs não existem naturalmente e são uma forma diferente de plantar árvores. Como é que surgiu esta ideia?

As seedballs são uma invenção simples, mas engenhosa, que me surgiu por acaso. Estava numa quinta a plantar árvores da forma mais tradicional possível… a cavar buracos e a colocar sementes lá dentro.

Foi engraçado, porque olhei para as árvores endémicas que ali crescem naturalmente e pensei nos nossos antepassados, que não cavavam buracos para plantar árvores. Isso fez-me pensar numa forma de imitar a forma de plantar da natureza. Foi então que fui comprar sementes para espalhar à mão.

Mas as histórias das invenções não se fazem sem percalços. Não houve chuva e muitas sementes foram comidas por pássaros, esquilos, ratos e outros animais.

Resolvi ir falar com o Elsen, um inventor que conheço desde os 15 anos. Aquela cabeça criativa era exatamente o que precisávamos para encontrar uma solução: revestir as sementes com uma camada de carvão reciclado (para impedir que fossem comidas por animais) que se desfaz com a chuva.

Começámos por fazê-las à mão, mas percebemos rapidamente que, àquele ritmo, só íamos conseguir obter meio quilo por dia. Por isso, inventámos uma máquina para produzi-las em massa e começámos a reflorestar o país.

Mais tarde, a pedido de muitos proprietários rurais, desenvolvemos seedballs de relva. A relva e as terras secas constituem 60% dos solos do Quénia. Descobrimos que plantar relva representava um grande desafio em muitas áreas.

O que é que destacarias nos últimos sete meses que passaste a distribuir mais de 11 milhões de Seedbolts?

É sempre satisfatório ver as nossas ideias a realizarem-se. Mas ver os jovens a trabalhar para a reflorestação, a fazer parte do processo e a acreditar no potencial que o projeto tinha para mudar vidas foi a melhor parte. Um dia, apareceram cerca de 60 estudantes, ansiosos por espalhar Seedbolts ao sol e entusiasmados por fazer alguma coisa pelo ambiente.

Mais uma vez, isto mostra que a ideia de que os jovens só querem saber das redes sociais e de videojogos não é real. As gerações mais jovens querem dar o seu contributo pelo ambiente e ajudar a reverter toda a destruição do meio natural.

Também destacaria as Seedbolts extra que recebemos pelos pedidos efetuados no Dia da Terra.

Contudo, não são só os números que me entusiasmam, são sobretudo as histórias. Houve muitas pessoas incríveis a contactar-me por me terem visto no vídeo da Bolt.

Imaginas que… essas pessoas viram o vídeo e, de milhares de coisas que veem diariamente, procuraram os meus contactos e vieram perguntar como é que podiam ajudar? Foi muito impactante.

Vamos falar um pouco sobre a logística. Mais de 11 milhões de Seedbolts são imensas sementes. Como é que organizaram a distribuição?

Neste projeto, percebemos a força da união. Não teria sido possível distribuir mais de 11 milhões de Seedbolts sem a ajuda de milhares de pessoas de todo o país. Dezenas de ONGs e curiosos contribuíram para o projeto.

Por exemplo, a Allan, motorista de mota, transportou 50 kg de Seedbolts quase todos os dias durante sete meses. E, apesar de parecer que uma mota não consegue transportar grande coisa, os esforços da Allan ao longo do tempo, juntamente com os de muitas outras pessoas, tiveram um impacto significativo.

As pessoas que lutam pela conservação da vida selvagem também quiseram fazer parte do projeto. É essencial garantir que os ecossistemas sobrevivem, especialmente com o aumento de secas e inundações provocadas pelas alterações climáticas.

Sabemos que algumas Seedbolts foram distribuídas com recurso a balões de ar quente, o que é, no mínimo, invulgar. Fala-nos sobre esse processo.

É sempre bom pensar fora da caixa, especialmente se for para procurar formas mais eficientes de distribuir sementes. Foi aí que nos ocorreu “e balões de ar quente?” Uma vez que há viagens para os turistas sobre o Rio Mara, os guias devem saber imensas coisas sobre a flora… sabem quais são as espécies que estão a ficar mais reduzidas. Eram os distribuidores de sementes perfeitos! O conhecimento local é essencial para semear de uma forma eficaz.

Já trabalhaste com muitas ONGs. Quem são e como é que as escolhes?

Funciona de duas maneiras: às vezes, são elas a contactar-nos e outras vezes somos nós a procurá-las. No fundo, trata-se de procurar as que estão alinhadas com a nossa missão. Ainda tenho de responder a algumas ONGs que estão interessadas em receber mais seedballs.

Damos prioridade às ONGs menos convencionais, que estão dispostas a experimentar novos métodos inovadores. Pode ser plantar árvores de novas formas, utilizando as seedballs como meios de propagação do arvoredo. Tivemos a sorte de trabalhar com organizações fantásticas como a Miti Alliance, a Big Life Foundation e a Kibwezi Well Wishers. 

Uma dos nossos parceiros, a Dra. Sonnia Nzilani Musyoka, foi recentemente nomeada pelo governo para Ministra do Ambiente e das Alterações Climáticas para o distrito de Makueni! Ter líderes com um pensamento progressivo em posições de poder é um passo importante na direção certa. 

A Dra. Sonnia ligou-nos recentemente a agradecer pelo nosso trabalho com a Seedballs Kenya e com a Bolt durante o último ano. Disse-nos que os nossos esforços puseram a Seebolts no mapa e ajudaram a sensibilizar as pessoas para um assunto tão importante como este.

Como disseste, é necessária alguma educação para perceber a importância de plantar árvores e renovar a pradaria. Achas que, com o tempo, as pessoas ficaram com mais consciência disso?

Sem dúvida! Aliás, as pessoas que se envolveram mais e que estão mais conscientes destes assuntos são essencialmente os jovens dos meios urbanos.

Acho que tem muito a ver com o mundo pós-covid. Como estivemos em casa durante muito tempo, muitos jovens começaram a fazer trilhos e aprenderam a dar mais valor à natureza depois da pandemia. Veem espécies diferentes de árvores e aprendem a importância e a ligação que têm com o quotidiano. É o primeiro passo para a conservação, uma vez que não é possível conservar o que não conhecemos.

Vamos falar sobre a chuva. No Quénia, espera-se pela chuva há muito tempo. Choveu o suficiente para as Seedbolts começarem a crescer?

Espalhámos seedballs nalgumas províncias ocidentais do Quénia, onde apanharam alguma chuva, apesar de ter chovido menos do que o habitual.

No entanto, há zonas do país a atravessar secas severas. Há sítios onde não cai uma gota de chuva há dois anos e meio!

Apesar disso, a boa notícia é que as seedballs conseguem resistir à seca durante 5-10 anos.  Por isso, quando chega a chuva, a esfera dissolve-se e a semente no interior começa a germinar.

Mas há mais! Há pessoas que resolveram regar as seedballs. Esperamos que, com esta preciosa ajuda, as sementes se transformem em plantas saudáveis em breve.




Vamos olhar para o país inteiro. Achas possível reverter a desflorestação com a plantação destas árvores?

Sim, acho que é possível. Recentemente, o Quénia elegeu um novo presidente, William Ruto, que reiterou o compromisso feito pelo executivo anterior – 30% do território coberto por floresta até 2030. Para isso, é necessário plantar mais 5 mil milhões de árvores nos próximos sete anos. Apesar do número, o nosso Governo percebeu que o custo das inundações e secas é maior do que o investimento necessário para começar a resolver a situação.

Mas não se trata só de plantar árvores novas. Proteger as que já plantámos é igualmente importante. Outra iniciativa fantástica que temos em curso consiste na alocação de mais guardas florestais.

O Quénia é líder no leste africano na conservação da natureza e conta com o apoio do governo para a recuperação florestal.

Além disso, a tecnologia tem avançado rapidamente. Por exemplo, esta semana, tenho uma reunião para falar sobre remote sensing – um método para ver objetos à distância. Vamos testar vários sítios onde plantámos Seedbolts e ver se daqui a cinco anos a tecnologia de satélite será pública e suficientemente avançada para que todos possam ver as árvores totalmente desenvolvidas e os prados renovados.

Que conselho darias às pessoas e às empresas que querem viver de forma mais sustentável e ter menos impacto no planeta?

Os livros “Small is Beautiful”, de E. F. Schumacher, e “A Revolução de uma Palha”, de Masanobu Fukuoka, expõem alguns conceitos que fazem muito sentido hoje em dia. Abordam certos comportamentos muito fáceis de adotar no dia-a-dia e que podem ter um grande impacto. Precisamos mesmo de 50 garrafas de água individuais para uma reunião de 50 minutos? Duvido que as pessoas fiquem desidratadas no espaço de uma hora. Estas pequenas mudanças podem fazer-nos pensar sobre formas de usar menos recursos.

Claro que existe sempre o outro lado da moeda: parece impossível responsabilizar as grandes empresas. Como é que podemos fazer com que elas parem de poluir? As grandes corporações costumam sacudir a água do capote e dizer: “bem, como vocês compram coisas feitas de cobre, nós temos de ter uma mina de cobre gigante. A culpa é vossa.” Esta lógica é falaciosa, tendo em conta que estas empresas faturam milhares de milhões de dólares em lucros subsidiados anualmente. No fundo, temos de votar com a carteira e ter cuidado com as empresas a quem damos o nosso dinheiro.

Gostava de ter uma resposta melhor do que “fazer menos compras” para os problemas do mundo, mas eu também não gosto lá muito de compras. (risos)

E agora um bom final para a nossa entrevista: qual é o teu sonho, Teddy?

Para ser franco, já o estou a viver. A sério. Às vezes, aparecem pensamentos como “e se eu tivesse isto ou aquilo”, mas depois lembro-me de que estarmos contentes com o que temos na vida é essencial. Não é a resposta mais óbvia para a pergunta, mas é verdade.

A vida tem-me corrido bem. Conhecer tantas pessoas incríveis e ver que o respeito pelo ambiente está a crescer é o melhor que podia desejar.

Última pergunta: se uma pessoa ler isto e quiser levar as seedballs para o país dela, o que é que tem de fazer?

Se quiserem levar as seedballs para o vosso país, o melhor a fazer é dar um passeio pelas áreas naturais na vossa zona e descobrirem que plantas, pássaros e animais existem por lá. Comecem por aprender mais sobre as plantas dos sítios onde vivem, prestem atenção às espécies que prosperam e às que estão a ter dificuldades e aos motivos. Quando tiverem reunido todo esse conhecimento, enviem-me um email. Terei todo o gosto em ajudar-vos.

Obrigado pela disponibilidade, Teddy. Falar contigo deixa-nos sempre mais felizes e otimistas!

Até j’árvore!

Publicações recentes